Obrigado, Luciano do Valle!

Fazer um gol é algo fácil. Uma cesta. Um ponto. Você está ali na tela, explodindo, a cores. Mas traduzir aquele momento único em palavras é algo difícil. Beira o impossível. Para poucos, muitos poucos mesmo. Luciano do Valle é um deles.

Foi ele que inventou um monte de esporte, um monte de mito. Foi ele que moldou o caráter esportivo de várias gerações. A minha, inclusive. 

A NBA é culpa dele. Passei a torcer pelo Chicago Bulls e Michael Jordan por causa dele. “Odeio” os Pistons e os Knicks por ele também. John Starks, que muita gente nem sabe quem é, eu “odeio” até hoje por culpa dele.

Torço pelo Buffalo Bills por causa dele. Conhece os Bills? Eu conheço porque Luciano inventou a NFL, o touchdown, o field goal e, pasmem, o Super Bowl.

Emerson Fittipaldi não existia se não fosse por ele. A Fórmula Indy, a Champ Car, enfim, esse mundinho da velocidade foi invenção dele. 

O boxe não existia até Maguila. Maguila só existiu por causa dele. Simples. 

Rivellino não era nada até Luciano inventar a seleção de masters. Uma geração gigantesca idolatrou Cafuringa por culpa dele. Eu, inclusive.

Sabe o vôlei? Não havia nem a quadra, nem a bola, nem nada. Foi Luciano do Valle quem criou isso. O vôlei foi ao Maracanã, meu Deus!
E o basquete? Oscar, Marcel, Hortência, Paula… Nada havia ali antes dele.
Até a sinuca ele inventou. Rui Chapéu faz parte do imaginário coletivo de uma geração até hoje. Rui Chapéu!

Em uma época sem internet, sem TV a cabo, com meia dúzia de canais (o 2, o 4, o 5, o 7, o 9, o 11 e o 13, esse, de Luciano), “criar” tudo isso, “inventar” tudo isso, desbravar tudo isso era, praticamente, impossível. Ele fez isso. Ele inventou esses esportes para um monte de gente. Gente como eu. Se hoje ele existe, o esporte, para mim, pelo menos, o grande culpado é Luciano do Valle.

Aí, essa gente como eu, hoje, toma um susto. Um baque. Por um momento, tudo para. Foi como se Jordan voasse, Jim Kelly lançasse, William levantasse, Rivellino batesse na bola, Maguila soltasse um direto, Rui Chapéu arriscasse uma tacada. Tudo em câmera lenta. No fundo, a lembrança da voz. Por vezes forte e firme. Por vezes, trêmula. Tanto faz. A voz, essa, imortal, ficou no ar.

De tudo que eu sou, boa parte se deve a ele, ao que ele narrou, à emoção da sua voz. Fazer um gol, uma cesta, um ponto, é fácil. Descrever a emoção disso em palavras, ao vivo, no ato, é para poucos. 

Ele vai. A voz fica, ficará eternamente. O legado, então, com certeza, nunca terá fim. Do fundo da alma, um eterno obrigado!

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Uma história sobre o “Dia Internacional das Minas”

Ainda é tempo, né?

Não me lembro ao certo a data, mas foi entre 2009 e 2011. Mas o que rolou é inesquecível, no péssimo sentido da palavra “inesquecível”. Foi em um belo fim de semana de trabalho que certo ser me pergunta se teríamos um álbum de fotos sobre determinado assunto, pois gostaria de usar o mesmo na home page de um portal no qual eu trabalhava. Era de praxe rolar o tal álbum, mas, como não era a área dele, ele não teria obrigação de saber que sempre fazíamos aquilo.

Pouco depois, 10, 15min, se tanto, a pessoa responsável pelo álbum, jornalista do mais alto garbo, competência e workaholic que só ela, mandou o link do mesmo para o email do requerente.

Passa o tempo, e nada. Passa mais de 1h, e nada. Ligo para o ramal do ser, a fim de saber se ele não usaria o link, afinal, ele mesmo havia pedido o tal álbum, que já havia, inclusive, sido turbinado com mais trocentas imagens. Ele me responde que não havia chegado nada por email.

Para me cercar de que não estava ficando louco, pergunto à jornalista que enviou o email se o mesmo havia sido, de fato, enviado. A resposta, claro, foi afirmativa. Volto a falar com o requerente e digo que ela – nesse momento, cito o nome dela no agradável papo telefônico – mandou o tal do link por email. A resposta: “Ah, é que vejo email com nome de mulher e nem penso que é de esporte”. Sim, amigos, isso aconteceu.

Quem trabalhou – trabalha – comigo sabe que meu sangue sobe de temperatura durante a labuta. Naquele dia, ferveu, ebulição instantânea, eu diria…

Acho meio piegas falar em Dia Internacional de A, B ou C, mas, mesmo sem nunca ter tocado nesse assunto publicamente, sempre surge essa história na minha mente quando chega o “Dia das Minas”. “Dia das Minas”, aliás, é a maneira carinhosa a qual me refiro à data e, mesmo assim, sou reprimido, anualmente e de forma severa, pela Bi, a minha eterna “mina”, que vai adorar a citação, mas vai odiar o “mina”. “Onde já se viu, mina? Hunf”, ela dirá, com ênfase no “mina”.

Em meio a tudo isso, posso falar da área que atuo, o jornalismo esportivo, e acredito que ser mulher nesse mundinho é uma provação diária. Tenho a sorte e o privilégio de ter vivido e de viver cercado delas. Hoje, convivo – à frente, ao lado, literalmente – trocentas horas por dia com uma mulherada que dá o sangue pelo que faz, que é trocentas vezes mais competente que tanto marmanjo que se acha por aí, que coloca muitos, mas muitos narizinhos empinados no chinelo. Ou na rasteirinha, na sandália, ou, quem sabe, no scarpin, termos mais adequado ao tema e à data.

Enfim, tudo isso para, mesmo com a pieguice, desejar um Feliz “Dia das Minas” atrasado, e que esse dia se espalhe pelos próximos 364. Dias, não, milênios. E que mostre que, mesmo com a idiotice humana citada nesse post, vocês, via de regra – tem umas exceções e até vocês sabem quem são -, são melhores. Sempre.

P.S.: Sobre a história, e tenho testemunhas para confirmar a veracidade da patacoada (para não chamar de filhadapu…), não vou citar nomes. O que posso dizer é que ela está aí, brilhando como sempre e, se é que isso é possível, sendo ainda mais sensacional. Mais: está prestes a conhecer um mundo novo, pronta para voar, voar, voar. Ele, sinceramente, não tenho ideia. Afinal, pra quê, né?

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Não existe racismo no Brasil*

Racismo? No Brasil? Não existe. Sério, pessoal, que papinho é esse.

Estamos no século 21, nosso país está mais civilizado e evoluído do que nunca. Racismo? Há!

Não entendo as pessoas ainda falarem disso. É claro, é cristalino, vejam meu exemplo.

A família do meu pai, italianos e cariocas, Orlandos, Mansuetos e Zaneis. Meu avô materno, espanhol, Parra Hernández, de Salamanca. Minha avó materna, de linhagem indígena, carregou um Camargo, que pode indicar um encontro espanhol antes do meu avô ou, ainda, ter nascido em Portugal. Ou seja, minhas raízes vieram de todos os cantos!

Minha pele é branca, bem branca, branca mesmo. Quando tomo sol, ou fico naquele rosa ridículo, ou naquele vermelho prestes a dar entrada no pronto-socorro. Tomo até vitamina D para suprir a falta dela no meu organismo!

Sou de Santo André. Para quem não sabe onde é, São Paulo faz parte da Grande Santo André. Para muitos, é interior. “Interior”. Há, balela.

Minha família sempre foi de classe média. Estudei em escola particular. Fiz faculdade particular.

Mesmo com tudo isso, com tudo isso, gente do céu, nunca fui vítima de racismo. Sou miscigenado, vindo do interior, e nunca vi nada disso. É verdade, gente. Nunca mesmo!

Deve ter muita gente (gente?) que pensa assim. É essa gente (gente?) que não pensa (pensa?) duas vezes antes de soltar um “macaco”, um “tinha que ser preto” ou qualquer outra blasfêmia preconceituosa. O motivo: a cor da pele.

Não existe racismo no Brasil. Claro que não, especialmente para alguém como eu. Mas, deveria, né? Afinal, é quase incompreensível que eu seja branco, ou, para quem olhar de perto, basicamente pálido. É só bater o olho, por exemplo, na família da minha mãe, que você tem a nítida noção da mistureba: tem negro, tem branco, tem todas as variações de cores entre o “negro” e o “branco”. Eu saí branco. Tem primo meu que é negro. E, bem, e daí?

E daí que tem muita gente como eu por aqui. Quando digo “por aqui”, falo com propriedade de São Paulo e sua mistureba toda. Quando digo como eu, digo essa essa gente (gente?) de pele branca e cara de gringo (e gringo, é bom explicar, não é preconceito com quem não é brasileiro, é apenas uma palavra de cinco letras para designar que estou falando de pessoas não nascidas no nosso país, ok?). Quando digo “como eu por aqui”, é gente (gente?) que está lendo esse texto e, pasmem, chegou até aqui na leitura. Para essa gente (gente?), para mim, não tem racismo no Brasil. É gente (gente?) que bate no peito para defender a tese furada do título desse post. Gente (Gente?)???

Tudo isso é incompreensível, mas aposto que tem gente (gente?) que consegue explicar, por A + B, todo o motivo desse repúdio. Gente (gente?) que convive comigo, com você. Gente (gente?) da minha, da sua família.

Esse blog trata prioritariamente de esporte. Os últimos acontecimentos racistas ligados a esportistas são, como diria Datena, “um tapa na cara da sociedade”. Um tapa na minha cara branca, que ficaria vermelha, depois rosa, depois voltaria ao transparente habitual. Um tapa que escancara como o brasileiro (gente, sabe?) é preconceituoso. É muito, mas muito preconceituoso.

PAUSE! Antes que os patrulheiros surjam, me antecipo. Por favor, não me venham falar que espanhol é preconceituoso, que africano é preconceituoso, que holandês, dinamarquês, japonês, dane-se. Esse texto não fala de espanhol, nem de africano, nem de holandês, dinamarquês, muito menos de japonês. Esse texto fala sobre coisas que estão acontecendo nas nossas caras, com brasileiros como eu e você, e essas “coisas” são apenas e tão somente a amplificação (“tapa na cara da sociedade”, manja?) de algo que está enraizado no nosso mundinho verde e amarelo desde sempre. Preconceito existe no Brasil desde que o “terra à vista” de Cabral, existe desde a criação da melhor mistura da história do homem, arroz com feijão. Arroz branco e feijão preto. Curioso, não? PLAY!

Se eu olhar para o meu umbigo, se eu quiser ler de uma maneira torta a parte em itálico desse texto, a conclusão clara e cristalina (clara? cristalina?) é que não existe mesmo racismo no Brasil. E tem gente (gente?) que pode não entender o quanto é torto – e mesquinho e infeliz, enfim, escolham os “elogios” – o texto em itálico aqui escrito. Uma pena que muita gente (gente?) viva a sua vida apenas em itálico, vida torta como o itálico. Pior que isso, é gente (gente?) que acredite piamente nesse papo que preconceito não existe. Século 21? Sociedade evoluída, civilizada? Balela.

P.S.1: Para quem não entendeu nada, duas aberrações nesta quinta-feira. “Árbitro relata insultos racistas e encontra bananas sobre seu carro” e “Racismo outra vez: Arouca é chamado de ‘macaco’ na saída de campo”, com direito ao áudio da agressão, que eu tive o total desprazer de ouvir ao vivo. Repugnante.
P.S.2: Ah, e para quem acha que isso é coisa de agora, tem um textinho de minha autoria na ESPN dos EUA, em inglês, que versa sobre o tema, “The not-so-beautiful side of Brazilian football”.
P.S.3: Ao me dar um beijo de boa noite, minha amada leu o título desse texto e soltou um “você realmente não está passando bem”, acho que em parte um trocadilho sobre a minha ausência no trabalho nesta quinta por motivos de saúde. Nada grave, calma, mas poderia ser se ela achasse, realmente, que eu defendia a “tese” do título. Ainda bem que foi só a pressão e a glicemia que baixaram demais. A noção de decência, não. Nem minha, nem dela.

*A falta que um sinal de ironia faz

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10 motivos para ver o Super Bowl para quem é fã de futebol americano

Os astros do Super Bowl XLVIII - Foto: NFL.com

Os astros do Super Bowl XLVIII – Foto: NFL.com

1
É o maior jogo da temporada do futebol americano. É uma daquelas partidas repletas de adjetivos. Épica, digamos. E você não pode perder isso. Nunca. Jamais.

2
É a chance de ver Peyton Manning se eternizar como o maior quarterback da história.

3
É a chance de ver Marshawn Lynch se eternizar como um dos maiores running backs da história.

4
É a chance de ver Russell Wilson dar um passo rumo à eternidade.

5
É a chance de catequizar seus amigos (as) que não gostam ou nunca viram um jogo de futebol americano.

6
Assistir ao show do intervalo e comentar com os amigos: “Ah, o do Bruce Springsteen foi melhor, hein?”

7
É a chance de ver jogadores geniais fazerem jogadas geniais. Ou jogadores comuns fazendo coisas extraordinárias. O jogo é democrático, e heróis inesperados podem surgir a qualquer instante.

8
Esse jogo será lembrado e falado por pelo menos sete meses, no mínimo. Não vai ficar fora dessa, né?

9
Você torce para Broncos ou Seahawks? Então, é dever moral ver o jogo. Não vai ver? Desvio de caráter.

10
Só 10 motivos? Sério? Só podia ser um torcedor do Buffalo Bills mesmo para escrever só 10 motivos…

LEIA MAIS
10 motivos para ver o Super Bowl para quem não dá a mínima para o Super Bowl

P.S.: O guia completo do Super Bowl XLVIII para você se divertir. De graça, no site da NFL. É só clicar aqui, são 292 páginas de muita história.

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10 motivos para ver o Super Bowl para quem não dá a mínima para o Super Bowl

O guia para o fã casual do Super Bowl - Foto: NFL.com/Illustration

O guia para o fã casual do Super Bowl – Foto: NFL.com/Illustration

1
Tem show do intervalo que é “o show do intervalo”.

2
Para entrar no clima, é a desculpa para se entupir de hambúrguer e batata frita.

3
É mais uma desculpa para entornar litros e litros de sua bebida preferida, inclusive – ou especialmente – as alcoólicas.

4
É outra desculpa para chamar os amigos para encher sua casa num domingo chato, comer hambúrguer, batata frita e tomar doses cavalares de cerveja.

5
Quer mais uma desculpa? É a desculpa para sair de casa – rumo a um bar ou à casa de algum amigo – num domingo chato, comer hambúrguer, batata frita e tomar doses cavalares de cerveja.

6
É a chance de torcer para um time qualquer porque a camisa é bonita ou a cor do capacete é legal ou é divertido falar Peyton Manning ou porque o quarterback é bonitão – mas não chega aos pés do Tom Brady – e, ainda por cima, mudar de time a hora que quiser. Sem culpa.

7
Tem um monte de cheerleaders bonitonas e, mesmo com o frio de New Jersey, não dá para desprezar. Sem culpa, claro.

8
Nunca viu um jogo de futebol americano? Dê essa chance a você mesmo! O jogo é legal, você vai se divertir! E nada melhor do que começar vendo o principal duelo do ano, não?

9
Todo mundo vai falar disso na segunda e você, claro, não quer ser o único a não ter ideia do papo, né? A não ser que…

10
… você resolva cumprir os passos de 1 a 8 – pule o 9, sem culpa -. Aí, claro, você tem uma boa desculpa para dar balão na manhã de segunda-feira. A não ser que seu chefe tenha visto o Super Bowl e aparecido para trabalhar. Vai arriscar essa jarda na quarta descida?

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10 motivos para ver o Super Bowl para quem é fã de futebol americano

P.S.: Do site da NFL: The Casual Fan’s Super Bowl Guide: XLVIII

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UFC 169: Barão e Aldo campeões e incríveis 6206 dias sem derrota

José Aldo, campeão dos pesos pena - Foto: Getty

José Aldo, campeão dos pesos pena – Foto: Getty

Renan Barão e José Aldo deram, às suas maneiras, aulas de como manter um cinturão de campeão no UFC 169. Somados, os brasileiros têm 6206 dias sem derrota, ou, se preferir, 16 anos, 11 meses e 26 dias. Não tem muito o que dizer, esses caras são especiais.

Vi, de fato, mais duas lutas do evento, e confesso que ignorei as demais, pelo simples fatos de terem sido extremamente chatas. O combate entre Frank Mir x Alistair Overeem, por “n” razões, não faria a menor falta ao card, enquanto a vitória de Abel Trujillo sobre Jamie Varner foi uma das coisas mais bonitas do UFC nos últimos tempos.

Abaixo, um resumão das quatro lutas que mais chamaram a atenção no UFC 169, que foi bom para os brasileiros, mas teve uma qualidade técnica bem discutível.

Renan Barão x Urijah Faber
Se havia uma dúvida sobre o cinturão de Barão, ela foi para o limbo na madrugada deste domingo. A aura de “interino” sondava o brasileiro, mesmo já sendo o campeão de fato. A aula que ele deu em Faber foi uma prova de que ele era o campeão undisputed há tempos.

Barão perdeu uma única luta em sua carreira no MMA, justamente a primeira, e 31 vitórias e 1 no contest em sua trajetória mais do que vitoriosa. São 3216 dias sem derrota (8 anos, 9 meses e 19 dias). Sério que alguém ainda tinha dúvida de alguma coisa? É um monstro!

José Aldo x Ricardo Lamas
Não tenho muito para dizer: é o melhor brasileiro no UFC. Entre WEC e UFC, são oito defesas de títulos. Mas dá para dizer que Lamas fez uma luta bem melhor do que o esperado. Coração gigante tem esse mexicano. Mostrou atrevimento, e assim que tem que ser. O problema é que do outro lado estava José Aldo, e aí complica. O campeão não deu show, mas dominou a luta por quatro rounds e só correu certo risco no fim do quinto. Risco controlado, cinturão defendido, e lá se vão 2990 dias (8 anos, 2 meses e 7 dias) sem derrota. Impressionante!

Frank Mir x Alistair Overeem
Joe Silva, o matchmaker do UFC, o cara que casa as lutas, conseguiu unir dois seres inexplicáveis no octógono. Overeem é um dos caras que mais cresceu fisicamente nos últimos anos, e leia isso como quiser. Mir já foi bom, mas é um peso pesado especialista em jiu jitsu que não luta direito em pé, ou seja, é meio estranho. Das duas, uma: ou Overeem ia nocautear em pé, ou Mir ia levar para o chão e sair de lá com a vitória.

Foi mais ou menos, mais ou menos assim. O fato é que Overeem só esteve em perigo em um momento, ao escapar de uma guilhotina. No restante, bateu como e quando quis em um Mir cada vez mais cansado. Pode ter sido o fim da linha para o norte-americano de 34 anos, que conheceu sua quarta derrota seguida. Sério, ele não vence desde que quebrou o braço de Minotauro em uma das lutas mais decepcionantes da minha história, em dezembro de 2011, no UFC 140.

Já Overeem desafiou Brock Lesnar, ex-campeão dos pesados, lenda do WWF/WWE, caso ele retorno ao UFC. Também em dezembro de 2011, no UFC 141, os dois se encontraram, e o holandês aposentou o grandalhão. Será que rola o reencontro? Com a palavra, Dana White.

Abel Trujillo x Jamie Varner
Foi uma das melhores lutas dos últimos anos e, mesmo me fevereiro, já é candidata a luta do ano. Combate franco, aberto, com muito mais raça do que técnica. Sabe MMA free style, moleque, à la Pride? Pois é, foi assim. Varner quase perdeu no começo, se recuperou e quase ganhou uma, duas, dez vezes, até que Trujillo, sabe-se lá como, acertou um petardo de direta. Verner beijou a lona. O primeiro nocaute da noite foi “o” nocaute da noite. Procure aí vídeos dessa luta e assista sem dó. Imperdível! Lutão!

P.S.: Clique aqui para saber como foi o UFC 169, round a round.

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Brasil no Mundial de basquete: uma excrescência de R$ 2,665 milhões

excrescência
2 fig. demasia, excesso, superfluidade; coisa que desequilibra a harmonia de um todo

Uma excrescência. Assim dá para definir a entrada do Brasil no Mundial masculino de basquete, por meio de convite da Fiba. O motivo para abominar o que rolou tem um preço: 820 mil euros, ou, se preferir, R$ 2,665 milhões.

A Fiba está na dela, assim qualquer loja no shopping ou restaurante ou o que você preferir. Coloca-se na prateleira o produto wild card com o preço que quer, no caso, R$ 2,665 milhões. Para entrar na fila, leia-se, entrar na fila, sem a segurança de que o produto será comprado, as entidades tinham que desembolsar essa fortuna. Eu coloco o preço, se alguém quiser pagar, ótimo. Trouxa não é quem cobra, trouxa é quem paga.

Pois bem, 13 países entraram na fila. Alemanha e Itália tiveram sanidade suficiente para pedir licença e dar uma voltinha. Para a Fiba, danem-se alemães, italianos, brasileiros, enfim, dane-se quem entrou, quanto mais gente nessa fila, melhor. Afinal, receber R$ 34,6 milhões sem sair do lugar é o sonho de consumo de qualquer um, certo?

Brasil, Grécia, Turquia e Finlândia foram os escolhidos. Brasil, com um basquete falido, um campeonato nacional que ninguém sabe quando acontece ou quem joga, sem perspectiva alguma de um futuro primissor, torra dinheiro sabe-se lá de quem – de onde vem? – para conseguir a vaga. Depois do papelão na Copa América, aquela que garantia o país esportivamente, o que pensa a entidade em disputar um Mundial, com um nível técnico extremamente superior ao torneio continental? Espera-se um título? Sério?

E mesmo se o Brasil fosse uma gigantesca potência, será que vale a pena fritar essa grana dessa maneira? Se a ideia é fomentar o esporte, que já foi um dos mais praticados e queridos do país, não seria melhor investir na base? Quantos torneios se paga com essa grana? Quantos jogadores se formam com essa fortuna? São tantas as perguntas que nem vale a pena continuar.

O wild card existe, e só isso já é uma bizarrice. Imagine que seu time de futebol foi rebaixado, não jogou nada, levou nabo de deus e o mundo, mas, sabe como é, já ganhou o campeonato duas vezes, então, amigão, paga uma grana aí e joga na elite, vai. A gente gosta de você, quer dizer, pagando, a gente te ama. É bizarro um Mundial com seleções convidadas, quando acho que o critério técnico sempre deve prevalecer. Ficar fora de um Mundial por falta de qualidade é um demérito, mas se classificar por um critério financeiro e lobista é tão abominável quanto torrar a grana para entrar na fila. O wild card, repito, é uma bizarrice.

Para completar, uma coincidência história marca a data. Em um 31 de janeiro de 1959, há 55 anos, o Brasil conquistava o primeiro de seus dois títulos mundiais, destruindo o dono da casa Chile no jogo derradeiro por 73 a 49. A seleção figurou entre os quatro mais bem colocados nas seis primeiras edições do torneio: 4ª em 1950, 3ª em 1967, vice em 1954 e 1970 e campeã em 1959 e 1963, a primeira bicampeã da história. Mais uma pergunta, para finalizar: será que esse sucesso sem precedentes – nem antecedentes – custou algo perto de R$ 2,665 milhões?

Fica, aqui, a admiração e a homenagem a Amaury Antônio Pasos, Carmo de Souza “Rosa Branca”, Edson Bispo dos Santos, Fernando Pereira de Freitas, Jathyr Eduardo Schall, José Maciel Senra “Zezinho”, Otto Carlos Phol da Nóbrega, Pedro Vicente Fonseca “Pecente”, Waldemar Blatkauskas, Waldyr Geraldo Boccardo, Wlamir Marques e Zenny de Azevedo “Algodão”, além do técnico Togo Renan Soares “Kanela” e do assistente João Francisco Braz, responsáveis, dentro de quadra, pelo primeiro título mundial do Brasil. Há 55 anos, o país precisava apenas de uma bola, muita técnica e doses cavalares de raça para brilhar. Hoje, 55 anos e um dia depois, precisa abrir a carteira para entrar na fila e trabalhar nos bastidores para receber uma pulseirinha VIP e entrar em um Mundial. Uma pena. Uma excrescência.

P.S.: A escolha do Brasil está explicada aqui, no site da Fiba, em inglês, entenda como quiser.

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Sobre “Get Lucky”, imbecis e “a música que une o mundo”

A apresentação lendária no Grammy - Foto: Divulgação

A apresentação lendária no Grammy – Foto: Divulgação

Sou um imbecil em muitos assuntos. Um deles: cinema. Não vi os últimos lançamentos, não sei quem são os grandes diretores, não tenho atores prediletos, muito menos consigo analisar a cenografia, a luz, o som, a montagem. Tudo isso para repetir que sou um imbecil em cinema.

Mas, em um filme chamado “Empire Records”, traduzido sensacionalmente como “Sexo, Rock e Confusão”, que eu tenho em DVD (sim, tenho alguns DVDs), de 1995, o personagem Eddie, interpretado por James “Kimo” Wills, diz uma das frases mais sensatas da história da humanidade.

“Esta música é a cola do mundo, cara. É o que une tudo. Sem isso, a vida não teria sentido.”

Obviamente, sou um imbecil quando o assunto é música também. Claro que, aí, tenho meus prediletos, sou chato – leia-se intolerante – com muita tranqueira, gosto de coisas que não deveria gostar, enfim, a imbecilidade continua.

Mas até um imbecil como eu sabe quando alguma coisa é boa. Muito boa. Genial. Histórica. Lendária. E todos os clichês cabem na frase.

Foi em agosto do ano passado que eu viajei a trabalho para os EUA. Uma tal “Get Lucky” bombava nas rádios de lá. O caminho de carro entre New York e Bristol, ida e volta, teve essa música como trilha, e não foram poucas vezes que ela tocou. Voltei, claro, com ela na cabeça.

Passa agosto, passa setembro, o imbecil aqui é internado, quase morre, mas sobrevive e sai do hospital. Na loucura por respirar a poluição e curtir o trânsito, resolve ir para casa dirigindo. Depois de 13 dias praticamente preso em uma cama – ou em um quarto -, você passa a dar valor para as coisas que odeia, no caso, poluição e trânsito. Ligar o rádio fazia parte do pacote, e lá estava ela, “Get Lucky”, me dando sorte no sonhado retorno para casa.

O tempo segue passando e descubro de sopetão que está rolando o Grammy – sabe como é, plantão de fim de semana é pesado. Bom, vamos lá dar uma olhada. Música vai, música vem, vejo pessoas que eu nem sabia que existiam sendo premiadas, enfim, a coisa vai rolando até que surge a tal “Get Lucky” no caminho. Dessa vez, ao vivo.

Não dá para negar que o que aconteceu naquele palco foi uma das coisas mais surreais da música planetária nos últimos tempos. Catarse coletiva. Até Yoko One levantou os bracinhos. A música do Daft Punk é um aceno de que há uma luz no fim do túnel. O vocal de Pharrell Williams, goste ou não, cai como uma luva. A guitarra matadora de Nile Rodgers é de arrepiar, com direito até a uma canja do clássico “Freak Out”. O baixo de Nathan East é a cadência do samba naquela doideira. E a bateria de Omar Hakim dita um ritmo que, se você não for um ser inanimado, é impossível de não se mexer. Caras com anos-luz de história na música. Só podia dar em coisa boa. Muito boa.

Não contente, um tal de Stevie Wonder é a cereja no bolo. “Get Lucky” é boa demais, a apresentação é impressionante demais, e aí esse mestre surge para dar uma pitadinha de “Another Star”, uma daquelas músicas que você ouve, ouve, ouve e quer sempre ouvir mais, afinal, nunca é demais. Não precisava, sabe.

Vi e revi o vídeo algumas vezes. Em todas, a certeza é que, por mais imbecil que eu seja, sei que aquilo ali foi bom. Muito bom. Genial. Histórico. Foi tão sensacional que me fez lembrar a frase de um filme, um tal “Empire Records”. “Esta música é a cola do mundo, cara”: com Stevie Wonder, Daft Punk e toda a sua trupe, faz muito sentido.

P.S.1: O assunto é velho? Sim. Mas, sabe como é, leva tempo para se recuperar de algo assim, tão emocionante. Leva tanto tempo que, se me dão licença, vou ali ver e rever mais algumas vezes.
P.S.2: Assista “Empire Records”. A trilha é matadora. Claro, não vai ganhar o Oscar, mas agrada ao meu gosto, digamos, “refinado”.

"Sexo, Rock e Confusão" - Foto: Divulgação

“Sexo, Rock e Confusão” – Foto: Divulgação

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Alvaro Pereira, o novo Jorge Wagner de Muricy

Alvaro Pereira na estreia - Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net

Alvaro Pereira na estreia – Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net

“Acertamos na contratação.”

Alvaro Pereira chegou como um desconhecido para uns, uma esperança para outros. Lateral da seleção uruguaia, famoso por ser bom no apoio e por bater bem na bola, precisou de apenas alguns minutos em sua estreia para deixar bem claro: o São Paulo não contratou Alvaro Pereira, mas, sim, um novo Jorge Wagner para Muricy.

Jorge Wagner virou um dos símbolos da era vitoriosa do treinador no Morumbi. Cito alguns motivos: bom passe na saída de bola, bom posicionamento na defesa e no ataque e facilidade em botar a bola na área, além de ser o “rei” das bolas paradas. O meia nunca foi um gênio, mas um jogador dos mais úteis, especialmente sob o comando de Muricy.

Bastaram alguns instantes na estreia para perceber que Alvaro Pereira vai cair como uma luva no esquema do técnico. Logo, tem tudo para se tornar, rapidamente, um dos ídolos da torcida. Os motivos, e quaisquer semelhanças com Jorge Wagner não são, em hipótese alguma, um acaso:

– é o desafogo – ou seria a solução? – para a saída de bola

– compõe razoavelmente na defesa (Jorge Wagner defendia melhor), é extremamente útil no ataque (Alvaro Pereira tem mais explosão)

– sabe bater bem na bola, tanto para chutar a gol como, principalmente, especialmente, para cruzar a redonda para a área

– obviamente, graças ao motivo acima, dominou as bolas paradas

– ambos são canhotos; coincidência?

– não é um motivo, mas não duvido que, logo logo, o uruguaio deixará a lateral e virará meia

“Acertamos na contratação.”

Ganha uma mariola quem acertar o autor da frase. Muricy, claro. Ele fez ressalvas, mas aprovou o reforço logo na estreia. As razões são mais do que óbvias. O São Paulo contratou Alvaro Pereira, mas, para o treinador, ele ganhou um Jorge Wagner novinho em folha. Presentão!

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Além da imaginação: o último voo de Falcao?

Imagine que a seleção de seu país tem uma geração promissora, um time entrosado, que fez uma bela eliminatória. Imagine que essa equipe tem um jogador acima da média, um atacante veloz, feroz na arte de fazer gols. Imagine que essa seleção é a Colômbia. Imagine que esse cara, Falcao García, pode ser?, é a grande esperança de liderar essa molecada a uma sonhada participação histórica na Copa do Mundo.

Imagine, agora, que esse ídolo arranque para o gol em um jogo de sua equipe, imagine o nome dela, algo como Monaco. Imagine que o rival é fraco, que tal um tal de Monts D’Or Azergues, que imagine, jogue na quarta divisão. Imagine que o lance é dentro da área. Imagine que o zagueiro dê um carrinho infantil. Imagine que o joelho da sua estrela dobre para o lado errado. Imagine a queda. Imagine a mão no joelho. O grito de dor. A apreensão.

Imagine que, depois de passar por exames, venha um diagnóstico dos piores. Sei lá, imagine algo grave, como uma ruptura dos ligamentos. Imagine que o tempo de recuperação seja de seis meses. Imagine que o sonho de tudo isso, da Copa, da geração, dos gols, enfim, imagine que o sonho de toda uma nação caia por terra. Imagine a tristeza. É de ficar com o coração destroçado, não? Imagine só!

Claro, há de se imaginar o outro lado. Imagine que há esperança, mesmo que ela seja do tamanho de um grão de mostarda. Imagine que você tenha apenas e tão somente isso a se apegar. Imagine que isso seja suficiente, muito mais do que suficiente, para acreditar que o sonho daquele Mundial, o sonho de toda uma vida, de um país, ainda está vivo.

Agora, apague a nuvem da imaginação. A realidade dói, destroça mesmo o coração. Resta, realmente, um grão de esperança. É nele que Falcao García se agarra, com unhas e dentes, na expectativa de um próximo voo. Um voo rasante, fulminante, dilacerante rumo à Copa. Um único e último voo. Imagine só como seria legal. Eu imagino.

P.S.: Veja aqui o vídeo da lesão do colombiano. E como fica a Colômbia para a Copa sem sua principal estrela? Leonardo Bertozzi mata o assunto em seu blog, “Sem Falcao, veja 10 atacantes que a Colômbia pode usar na Copa”.

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