Lucas, amadurecimento e o mimimi

Lucas, do São Paulo - Idário Café/Vipcomm, Arte/Ricardo Zanei

Lucas, do São Paulo - Idário Café/Vipcomm, Arte/Ricardo Zanei


Não gosto de jogador mimimi. Aliás, não gosto de ser humano mimimi, mas vou tratar apenas do lado boleiro da coisa. No futebol, os níveis do mimimísmo são enormes. Imagino como deve ser o mimimi dentro de um elenco. Deve ser insuportável. Se, olhando de fora, já é chato pra caramba, penso que, vivendo aquilo, deve ser surreal.

Tem outras coisas que eu não gosto. Por exemplo, gente que usa as redes sociais para dar indireta, desabafar. Eu mesmo já fiz isso e, admito, é uma atitude das mais imbecis. Tendo a achar que seria bem mais útil falar a coisa toda na cara e resolver logo o assunto.

Lucas tem 19 anos e já foi apontado como uma das maiores esperanças do futebol do país. Na última semana, virou um enorme exemplo do mimimi no mundo da bola. Reclamou no Twitter, uhu! Ou seja, conseguiu, com uma atitude, unir duas coisas que eu abomino.

Com 19 anos, eu também era um mané. Hoje, ainda continuo sendo. Mas existem coisas que você aprende e leva para a sua vida. Pior que aquele papo de experiência, de amadurecimento, é verdade. O tempo passa e você fica menos idiota. Para quase todo mundo é assim.

Talvez tudo tenha acontecido muito rápido para Lucas. Em, sei lá, um ano, um ano e meio, o moleque passou de um garoto dos juniores para titular e principal esperança do São Paulo e do são-paulino. Mudou até o nome, tirou o apelido, Marcelinho, e adotou o do RG, Lucas.

Nesse meio-tempo, foi convocado para a seleção brasileira e chegou até a ser comparado com Neymar. Claro, um exagero, mas que rolou, rolou. É muita coisa ao mesmo tempo para a cabeça de um garoto.

Aí ele vai no Twitter e reclama de uma maneira, digamos, infantil. Parecia aquele garotinho tentando se eximir de toda e qualquer culpa por, sei lá, ter jogado bola no corredor e quebrado o vaso da mãe. Aí vem o jogo seguinte, contra a Portuguesa, e ele resolve que não dribla mais ninguém, que só vai tocar a bola. É mimimi demais, mesmo para um moleque de 19 anos, não?

Não sou superfã do Leão, mas acho que, nesse episódio, ele foi preciso:

“Ele não pode ser oito ou 80, tem que encontrar o meio termo. É isso que estamos tentando e é o que vamos fazer. Às vezes, se erra na medida. Estamos aqui para ajudar, apoiar, orientar, mas ele passa duas, três horas conosco, mas 21 horas fora, ai que começa a complicar, mas nada como um dia após o outro.”

Ou seja, a coisa é simples. Há a hora de driblar, há a hora de tocar a bola. Não tem grandes segredos, né? Mas, para o jogador de futebol, o entendimento disso tudo demora, tem todo um tempo de maturação. Ainda mais para quem é – ou se acha – acima da média. É o tal do amadurecimento.

Mas aí vem o empresário, o famoso Wagner Ribeiro, e diz um monte de asneira, como “Lucas está sendo mal administrado, mal trabalhado”. Desde quando empresário influencia na maneira como o jogador A ou B deve se portar em campo: E ainda tem a pérola maior, em entrevista à rádio Estadão/ESPN:

É como ter uma Ferrari. Você sabe que ela anda rápido, mas se tiver um piloto que não sabe dirigir, que não sabe trocar as marchas, o carro não vai bem. O Lucas é um Ferrari, um jogador de seleção brasileira, que não quer sair do São Paulo e que ama o clube.”

Sinceramente, é de embrulhar o estômago a análise de Wagner Ribeiro, não? E falando bobagens, ele só atrapalha o moleque e todo o amadurecimento que ele precisa para voltar a brilhar. Mais do que isso, para se firmar como um grande jogador. Por enquanto, é uma promessa. Uma bela promessa.

Espero que Lucas encontre logo esse amadurecimento. O único prejudicado, até agora, é ele mesmo. Sei que não sou ninguém para dar conselhos, mas Lucas, meu filho, a primeira coisa a fazer é parar com o mimimi. Erre um, dois, dez dribles. Mande um passe para o cara que está ao seu lado lá na Marginal. Mas, por favor, sem mimimi.

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