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2014: a Copa da roubalheira, da higienização urbana e da dor de um caro legado

2014, um elefante branco - Arte: Dri Matsuda

2014, um elefante branco - Arte: Dri Matsuda

Quem lê esse blog sabe que defendo a Copa do Mundo no Brasil, desde que as pessoas que realmente mandam fossem completamente diferentes. Como não são, sou fervorosamente contra tudo isso, especialmente, a farra com o dinheiro público, ou seja, o meu, o seu, o nosso dinheiro. Tudo revertido para o Mundial. Ou melhor, para os bolsos de alguns por aí. E não sou eu que digo isso.

“Está tudo muito atrasado. Algumas obras de mobilidade urbana chegam a 80% de atraso. O rombo vai passar de 100 bilhões nessa Copa. Quando chegar as obras emergenciais, aí todo mundo vai roubar pelos cotovelos. Vamos ter de abrir presídios novos pra colocar o pessoal, pois vai faltar lugar [na cadeia].”

A frase acima foi dita por nada mais nada menos que Romário, na semana passada, em entrevista ao UOL (clique ali e leia a notícia completa). Vale lembrar que o ex-atacante é deputado federal e está vendo, bem de perto, o que está rolando. Sabe o que fala, pois.

“Não se faz nada nesse país sem levar vantagem (…) Na Bahia, o pessoal fala que o Antônio Carlos Magalhães faz, mas rouba. Pior é roubar sem fazer nada. Isso que é duro. Que roube, mas faça alguma coisa, que deixe algum legado para que seja aproveitado.”

Mais uma frase que não é minha. O autor é Vampeta, campeão mundial em 2002, cheio de amigos aqui e ali e conhecedor dos bastidores do futebol, seja o lado engraçado, seja o lado podre. No caso, bem podre. (Clique aqui e leia a entrevista completa no bom programa “Kajuru Pergunta”, de Jorge Kajuru, no Esporte Interativo).

“Eu fiquei muito feliz quando soube que a Copa vinha para o Brasil, para Natal. Mas, para trazer infelicidade da gente, também, é triste.”

Olha só, mais uma frase que corrobora o meu escárnio por tudo que está acontecendo. A frase é da professora Maria do Socorro, entrevistada pela ESPN Brasil na série especial “Areia Movediça, a Copa sob as Dunas” (aqui, nesse link, está o programa inteiro), sobre a bizarrice que está acontecendo com Natal. Sabe aqueles programas para ver e rever, para ficar indignado, para não acreditar que tudo isso está acontecendo debaixo dos nossos narizes? Pois é.

Sabe o motivo da frase da professora? Uma tal “política de higienização urbana”. Luis Alberto Volpe, o narrador da série, explica que é uma política “que afasta os pobres de regiões valorizadas pela especulação imobiliária”.

A expressão “higienização urbana” soa, para mim, como nazista. Sabe aquele lance de “elite ariana”? Sério mesmo, é isso que está acontecendo, e não apenas em Natal. A capital potiguar é apenas um exemplo. O programa é digno de tudo que é prêmio pela maneira como revela a realidade, nua, crua e revoltante, desse Mundial. (Clique aqui e assista ao sensacional “Areia Movediça, a Copa sob as Dunas”, dos não memos sensacionais Roberto Salim e Marcelo Gomes).

E aí me vem o Ronaldo e diz que é a “Copa do povo”. Bebeto, aquele que quase chorou com a saída de Ricardo Teixeira, idem. Mas a que preço, hein? O meu preço é o imposto que eu pago para saúde, educação e tudo mais, o meu preço é aquele que dói no meu bolso. Em Natal, como em outras sedes, o preço dói na pele e na alma. Esse é o legado da Copa. Um legado caro. Revoltante. E doloroso.

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